O carnaval de Pernambuco tem uma riqueza de manifestações da cultura popular do estado. O maracatu rural, também denominado maracatu de baque solto, é uma delas. Nascido no início do século XX, e concentrado na região da Mata Norte de Pernambuco, ele se caracteriza pelas suas cores, poesia, dança, música e fantasias. Com diversos figurantes, destaca-se entre esses o caboclo de lança, um símbolo do estado de Pernambuco.
O carnaval do maracatu rural se inicia no domingo de carnaval, quando, nas suas sedes, ocorre a linda cerimônia de chegada dos brincantes: um a um, cada brincante é recebido pelo mestre do maracatu, que entoa versos personalizados para o brincante que está fazendo sua “chegada”. Em especial, a chegada dos caboclos de lança e dos caboclos de pena (reiamá) se constituem num espetáculo de rara beleza. Depois da chegada, o maracatu “manobra” e inicia seu carnaval viajando e se apresentando em diversas cidades.
A Cambinda Brasileira, um maracatu rural de Nazaré da Mata e fundado em 1918, tem sua cerimônia de “chegada” no seu terreiro que fica no Engenho Cumbe, zona rural do município. Durante a cerimônia, o fundo verde dos campos de cana-de-açúcar emoldura a beleza e o colorido dos brincantes.
Durante o carnaval a Cambinda se desloca em três ônibus e um caminhão baú (que leva a bandeira e as fantasias). Em cada cidade, o grupo coloca as fantasias e o maracatu faz sua apresentação (em geral no palco principal da cidade). No final de cada dia a Cambinda volta para Nazaré, onde “dorme” em uma escola pública cedida pela prefeitura da cidade.
Nesse corre-corre, uma das apresentações se reveste de muita relevância, por integrar o Concurso de Agremiações Carnavalescas promovido pela Prefeitura do Recife. A Cambinda faz parte do Grupo Especial dos maracatus de baque solto que, neste ano de 2024, teve nove competidores. E a Cambinda Brasileira de Nazaré da Mata sagrou-se campeã! Esse resultado trouxe enorme alegria e emoção para toda a comunidade que faz a Cambinda, mas também para seus fãs e admiradores.
Colocar o brinquedo na rua é uma tarefa com enormes dificuldades. A Cambinda conseguiu enfrentar suas dificuldades e, vencer! Mesmo tendo uma mudança de diretoria em setembro passado, o grupo conseguiu se recompor e, com união e trabalho, trazer para Nazaré da Mata esse título tão desejado. A fala de Fifia, o jovem presidente da Cambinda, simboliza bem esse esforço: “agradeço a todos folgazões, burra, mateus, catita, mestre caboclo, ao terno, baianal, todo miolo, reiamás, rei, rainha e dama de paço, que deu um show, o maracatu por completo está de parabéns. Agradeço a toda a Diretoria. Agradecimento especial ao Mestre Anderson, que considero meu décimo terceiro diretor, que se esforçou e contribuiu bastante para que atingíssemos esse objetivo. Não foi fácil, não foi fácil, superamos todas as dificuldades e obstáculos e mostramos do que somos capaz”.
A vitória da Cambinda se reveste em uma vitória da cultura popular pernambucana e referência para toda a comunidade maracatuzeira. Parabéns Cambinda Brasileira!
Hermano Perrelli de Moura (Caboclo Professor)
Vamos lá... 